segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Central.

Recuei dois passos após os olhares reprovativos que se seguiam.
Encostei na parede suja.
Mãos e pés.
Cascas de bananas.
Um cheiro fétido de gente amontoada sob um vapor de suor e xixi.
-Para não dizer fezes.
Muita luz no corredor.
Quase nenhuma nas celas.
Então, constatei que nem a luz se atrevia a isto.
Imagine eu.
Eram pessoas.
-Ou quase isto.
Sonhos, desejos, paixões....
Seres Humanos.
Muitas vezes nem tão humanos assim.
Mas feitos de carne e osso como eu....
Bastantes para um cimento frio, um papelão sujo e idéias desconexas.



Então, tudo bem.... fui a penúltima e já me disseram que a 1° vara não é lá estas coisas.
Pensei em voltar ao Conselho de Ética.
O trabalho era menos sujo mas não mais do que isto.
Sim, neste momento eu sou a única mulher no núcleo da Central de Flagrantes.
Então tenho uns nomes nas pastas.
Umas datas nos registros.
Uns autos de mais de 24 horas.
Presos descendo para a Casa de Custódia.
Mães e esposas aos prantos por seus entes queridos ( homicidas, ladrões, 171...)
Pensei comigo mesma: Sim...uma hora eles tem de ser bons.
E devem ser.
A alguns quilômetros dali.

Um comentário:

Monalisa disse...

Sei lá...
eu gostaria de um trabalho assim.
Oo

XD