quarta-feira, 6 de junho de 2012

De volta.


Alguns silêncios falam mais do que palavras
Transcendem gestos,dias, olhares, semanas
Impregnam-se nos nossos sonhos, sapatos, roupas, palato.
E vamos seguindo caminhos que não nos levam a lugar algum
Uma preguiça de ser o que se é - ou parece ser.
Sem saudades profundas, desesperos inigualáveis.
Caminhando até lugar algum como se caminhar bastasse.
É que viver sem poesia é viver assim: sem ter por onde ir.
É vagar por tudo sem ter consigo coisa alguma
Não é poesia de palavras (apenas).
É a poesia de quem não se dá por satisfeito
Vivendo apenas.....
Seguindo caminhos estreitos.
-É chegada a hora de voltar.


terça-feira, 11 de outubro de 2011

ócio.

O ócio é o combustível das artes.
As burocracias diárias ligam você no modo automático.
Então você inevitavelmente incorpora atributos tão seus e tão de qualquer um.
Toma café às 8:00, almoça às 13:00, janta às 19:00 e sequer sabe o que pôs no prato.
Tem gente que vive liberta desses pormenores
Acorda porque o sono acabou
Come quando tem fome
Saboreia e se lambuza com uma melancia no meio da manhã sem se preocupar em sujar a gola da camisa bem passada.
Quantas vezes no dia você abdica das suas vontades para estar em paz com o outro?
Quantas vezes você reconhece que é mimado o suficiente e chato o bastante para querer tudo ao seu tempo?
É meu caro... é duro viver todo dia.
Duro e maravilhosamente bom.
Tem dias em que o seu maior desejo é que chegue amanhã.
Provavelmente amanhã vai ser como hoje
E olha só a magnitude da vida
Acreditar que todo dia vai ser diferente - e é!
Então porque alimentar aquela velha mania de criticar o que é diferente?
É a fraqueza de se ter a certeza de que o que é diferente é extremamente prazeroso.
Bom mesmo é viver com gente diferente - ou como gente diferente.
Escutar boas novas e notícias ruins
Mania chata a nossa de querer que os outros sejam o que nós achamos que somos.....
Não somos.
Estamos, seremos, poderemos e certamente morreremos - sem entender quase nada do que poderíamos ter sido.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Zumbi

[O trato com as palavras exige mais do que querer dizer algo.... fala-se também com o silêncio.]

Você vive uma obsessão mórbida
Rotina transcrita em todas as coisas repetitivas
Quando não se tem
Quer-se ter
Quando se tem
Há o medo de se perder
Você se perde, se encontra, se ilude, se encanta.
Mil vezes você comete os mesmos erros
Aposta no mesmo jogo falho
Desperta os interesses alheios
Você é estúpido por sempre fazer as mesmas coisas
Se esquiva,
Faz mal a si.
Como se auto-mutilação fosse um troféu....
Não é pena, meu caro.
É a sabedoria de quem vê um pouco mais além.
Arrume as malas e jogue fora as velhas calças.
Não lhe cabem mais suas conveniências
Nem as novas condolência
Não é morto que se vive,
Mas é vivo que se morre.



terça-feira, 26 de abril de 2011

Do lado de lá

[Partir muitas vezes leva você a lugares que nem você sabe que existe em você.
Como a nostálgica saudade de tempos que não voltam mais
-Mas moram sempre na lembrança]

Já não nos vemos há algum tempo.
Alguns aqui, outros acolá.
Cada um no seu devido lugar.
E o que faz a vida ser tão doce senão apenas tudo aquilo que nos faz ser o que somos?
Nada de vizinhos na nova casa.
-Na verdade, depois deles tanto faz.
Sabe aquelas lembranças boas que fazem você rir só de lembrar?
De gente que é tão seu que sequer pode imaginar.
Assim tive uns ” Tajras”.
Há um tempo atrás
Um bom tempo atrás
Nem sei por quanto tempo, mas o suficiente pra que eu lembrasse
Carlos, Alice, Érika, Júnior, Kalil.
Depois que eles foram embora a Juiz João Almeida não foi mais a mesma.
Tia Alice era, na minha cabeça de criança, a Fafá de Belém
Associei o sorriso, o busto farto e quando ela me disse que a caixa d’água da UFPI não era um monumento da praça dos três poderes em Brasília fiquei arrasada!
Superei, mas durante um tempo ainda achei que era....
Tio Carlos era sério, mas sempre oferecia um sorriso sincero e levava a gente pra fábrica depois do CEBRAPI e isso era deveras legal.
A Érika era um doce e incrivelmente educada.
Gente do bem, sabe?
-Ainda é.
Tinha no quarto uns pôsteres de banda e ainda hoje quando olho pela janela lembro de onde era seu quarto.
Ela me arrumava, penteava pacientemente meu cabelo (ou um projeto dele!).
Me levava até para a casa das amigas dela quando tinha alguma festinha.... suspeito que ela tenha me adotado como irmã mais nova.
Foi ela a culpada de me arrumar um namorado aos 7 anos. (pula essa parte, eu já era precoce?)
O Júnior e o Kalil eram aqueles meninos danados de doer..... Nem me lembro quantas vezes brigamos, mas já rolou até briga de mangueira na calçada. Mas no outro dia já estava tudo bem... e se ainda escuto Michael Jackson a culpa é deles. Tinha uma vitrola na sala e uns vinis infalíveis que viraram trilha sonora das nossas brincadeiras.
Brincávamos de gato mia à noite, de jogar vôlei na calçada....
De dia, comíamos sirigüela e quando não tinha, as folhas também eram devoradas.
Por pura maldade, recolhíamos os casulos pra ver se tinha borboleta dentro.
Talvez por isso, para me redimir, tatuei um par de borboletas na nuca.
Muitas vezes só encontrávamos adivinhões ou lagartas de fogo, mas tudo bem... a gente era feliz assim mesmo.
O Júnior me roubou um selinho com um hibisco malicioso. Fiquei injuriada e fui contar para a mamãe. Depois ele me disse que ficou de castigo e nem pode passear na Chevy nova do Tio Carlos.... malvadeza!
Eu e o Kalil pedíamos esmola na rua.
Coisa de criança mala, entende?
Escolhíamos as roupas mais esfarrapadas e saíamos pedindo de casa em casa. Eu era loira e ele também, então tenho sérias suspeitas de que nunca convencemos ninguém pois só ganhávamos bananas!
Para completar quando eles terminavam as tarefas primeiro do que eu e o Davi eles subiam no muro e faziam o maior alvoroço. Ninguém conseguia estudar depois disso.
Certa vez, os meninos estavam brincando de escorregar no terraço cheio de sabão e o Júnior se acidentou cortando o joelho.
Quando fui visitá-lo fiquei tão assustada que me lembro que quis chorar... ele passou um bom tempo sem poder brincar com a gente, e pra dizer a verdade durante esse tempo as brincadeiras ficaram meio sem graça...
Estudávamos no mesmo colégio
Pegávamos carona uns com os outros
Passávamos a maior parte do tempo juntos.
Eles estão nas minhas fotos de criança
Assoprando velas comigo
Participando da melhor época que alguém pode viver
Onde tudo é tão pequeno e tão grande.
Onde você se sente protegido porque sabe que está em casa e pode contar com seus pais.
Nós éramos felizes
Estupidamente danados, saudáveis, marotos.
E não me lembro o dia em que eles partiram....
Só me lembro quando nada daquela casa ao lado fazia mais sentido
Era como se aquele silêncio doesse nos meus ouvidos
Eles foram embora
Depois disso nos vimos poucas vezes, apesar de morarmos na mesma cidade,
Mas sempre tem aquele gostinho de quem já dividiu algo inesquecível
E ninguém do lado de lá do muro preencheu o vazio que eles deixaram
A rua ficou sem graça, sem brincadeira.
Chegou o dia de crescer
E agora, aqui.... já não me importo de não ter vizinhos
Pois sei que alguns deles estão em Teresina, outros em Londres, outros em Parnaíba.
E apesar disso...
Eles sempre vão estar no mesmo lugar de onde nunca saíram.

sexta-feira, 25 de março de 2011

eu estava falando do quê?

Sim, qualquer pessoa pode ser o que quer ser
A democracia dos relacionamentos e personalidades nos permitem isso
Então seja confortavelmente algo
E calar vai fazer você perceber o quanto os sons ensurdecedores que trocamos nos tornam dementes
Rotulamos as pessoas e isso é um fato
Procuramos padrões ou conexões plausíveis que nos resumam qualquer coisa que não entendemos, ou apenas queremos criticar
E como é bom criticar.... ser o dono da verdade, das certezas... ter boas opiniões, ser opiniosamente entendido de quase tudo.
Um quase tudo muito nada.
Gente chata e tão comum
Tal qual nós mesmos.
O dom da observação não permite a escusa de saber
Que quanto menos gente há
Há bem mais gente tentando ser gente
Sapo grande em lagoa pequena
Não caia na tolice cega de ter como referência a lagoa.....
Pode ser que ela seque no próximo verão
A vida alheia interessa
E não negue o prazer da futricagem, da fofoca, da sacanagem, da desgraça.
Curiosidade sadia é só a sua
A dos outros é vadiagem
Vadia
Sem poder se esconder do que talvez nem seja
Por ser apenas aquilo que é
Ou que alguém quis que fosse
Tenho a péssima mania desta compaixão idiota
ops.
Idiota na medida que me convém.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Idiota.

Internalizei o conceito de não formular conceitos.
Prático, estável, prolixo.
Impossível.
E não se permita ser idiota tal qual as pessoas esperam que você seja. Seja apenas idiota quando isso lhe convir e saiba ser um bom idiota.
Um bom idiota também é um bom surdo, na medida em que ouvir coisas que não deveria nos faz alvos fáceis de nós mesmos. Como aquele comentário despretencioso que talvez em algum momento possa ser usado contra você. Ser inteligente é saber mais do que apenas saber o que fazer.
Entendeu?
Sim.
A idiotice é fundamental para a manutenção das relações humanas. Complexidade exige fingimento e saber fingir... Ah... isso é uma verdadeira arte. Nada de escrupulosos conceitos acerca da sinceridade desenfreada. Gente sincera demais é inconvenientemente irritante e 99% das vezes é desagradável. O limite da sinceridade é o momento em que você começa a ser idiota.
Algumas vezes falar muito ou falar pouco lhe dão um agradável atestado de idiota que você usualmente pode exercitar.
Ser idiota por falar demais, faz as pessoas criarem conceitos fúteis de você, fazendo com que você se torne aos seus olhos seres inofensivos... o que é bem prático quando isso nos convém.
Ser idiota por não falar nada irrita algumas pessoas que precisam de comentários afirmativos para acretitarem no que estão falando. Isso é muito bom pois na medida em que você vira um idiota calado poupa os seus ouvidos de asneiras e comentários desnecessários sobre o tamanho do salto da colega da limpeza.
Ser idiota no casamento também é útil. Principalmente quando você está com alguém que sabe que o poder da idiotice é útil para ambos os lados. Você se faz de idiota quando chega em casa e vê aquela bagunça miserável que você tem que arrumar, mas está cansado o suficiente pra dizer a si mesmo que tem que fazer isso. Você se faz de idiota e fecha a porta pra não vê.
Você se faz de idiota quando alguma coisa não lhe agrada e vira o idiota calado e absorto em seus pensamentos pra não fazer a idiotice de discutir por uma outra idiotice que certamente vai deixar de sê-la quando a sua TPM passar.
Afinal, mulheres muitas vezes são os seres mais idiotas que eu conheço ( e me incluo nessa). As que sabem o poder que tem geralmente não sabem usá-lo ou preferem não admitir que o possui. As que não sabem, reprimem as poucas e únicas que dentro da sua consciência exercitam algum neurônio.
Sim... já não somos mais tão misteriosas e incontroláveis como antes. Na verdade caímos no conceito piegas de “ as mulheres não sabem o que querem”. Sei bem o que quero: ser idiota apenas quando eu mesma puder me utilizar disso em beneficío próprio; ser idiota fundamentalmente quando pessoas idiotas tentarem me convencer que não são. E alguma coisa aqui dentro me diz que nós todas deveríamos entrar no controle e fazer os idiotas comuns virarem idiotas comuns e insignificantes.
Um bom exercício pra quem adora ser excessivamente cult.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Sei.

Seja sempre como for
Sobreposições alheias de um orgulho extenso
Cobre mais de sim ao menos uma vez
Apenas dessa vez
Seja qual for
A sua sentença não vem daqui
Nesses dias chuvosos
Lamosos
Lamuriosos
Ecoam as vozes do silêncio
Sobre a mesma bagunça herdada de há tempos
Você pode não ser responsável pela infelicidade de alguém
Mas certamente pode fazer alguém menos feliz
-Do que talvez fosse
Seja feliz!
Onde queira ser
Onde possa ser
Seja qualquer coisa por você mesmo
Apenas seja
E mude o que se vê
As obviedades inoportunas
Jogue fora o que não lhe faz bem
Compre novos sonhos
Aposte no Sol que vai sair
E as noites podem ser menos frias
Quando o calor que invade lá fora...
Vem de dentro.
.........." É preciso força pra sonhar e perceber que a estrada vai além do que se vê..."