sábado, 29 de novembro de 2008

De dia.

Minha inquieta mente não me permite sequer comer um cachorro quente sem pensar em como ele poderia ser maior.
Ñão é o mundo que é complexo.
Confesso! Eu complico demasiado as coisas.
E não consigo me concentrar nem por um segundo nos afazeres mecânicos que conduzem o nosso dia.
Uma inquietude mental irritante.
Então, penso no que é, no que pode ser e no que está por vir.
Sem a certeza de que alguma destas coisas irão acontecer.
Isto me basta nesta implicância diária com o tempo.
Confabulando gestos, palavras, sons e cheiros.
Incessantemente buscando o que não se sabe, o que talvez nem se queira saber, o que não existe.
E eu ainda nem escovei meus dentes.....

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Antes de dormir.

Às oito e meia na central. Tempo relativo. Pouca gente.
Esta semana ou não era propícia para a delinquência ou, enfim, estão todos presos.
-Doce ilusão.
Então já virou estatística: sair durante a semana é mais seguro.
Aos fins de semana sempre tem algum bebum por aí afim de bater em alguma "indefesa" mulher irritante.
Me resguardo destes tipos.
O calor está insuportável!
Chuveiro elétrico desligado da tomada.
Alguém, por favor poderia inventar um resfriador de água?
Eu mesma poderia fazer isto se minha capacidade inventiva não estivesse sendo prejudicada pelo genocídio de meus neurônios.
-Estão derretendo.
Sim, parece impossível mas os dias tem sido mais quentes.
A paciência diminui, o tédio aumenta.
Diretamente proporcionais.
A única tola satisfação ao Sol que tem me perseguido são os passeios diários de ônibus.
Ao meio-dia o melhor local para sentar-se é do lado do cobrador - faz sombra.
Paradoxo.
As 19:30 um homem diz que perdeu 6 membros da sua família, dentre eles sua mulher grávida.
Então ou desisto do mundo ou do Jornal Nacional.
Minhas lágrimas não poderiam alagar o sul do estado, mas molharam a minha fronha.
E me vi invadida por um medíocre sentimento de pura revolta.
Uns alagados, outros com sede.
E o Bonner não veio transmitir o JN do nosso sertão, onde há sede e fome.
Uma tragédia habitual - se assim o fizesse teria de transportar todo o estúdio para cá.
O Brasil é um país democrático!
E ainda tenho que dormir com esta.



Besteirinhas.

[bom dia, bom dia, bom dia.]

Se fosse ou não.
Até poderia ser.
Então não sendo.
Não se sabe onde se pode ser.


[olha só....mais alguns planos - então vamos construir nosso castelo.]








[Registro]


Tudo que é nosso é por inteiro.

Quero um espaço maior do que meu sorriso,
Um lado de cada um
Um medo combatível
Uma certeza incontestável
Quero ainda uma casa na praia,
Uma rede ao domingo
Um sorvete de cada
Um porto seguro
Uma alegria roubada
E por querer tanto em tão pouco:
O nada não me convém.


quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Caminhando.

Caminhando

Até onde nossos pés nos levarem

Olhando em volta por cada fresta.

Deixando ao tempo o que nos resta.

Se somos sonhos?

Sim, sonhos infinitos como o amor que carregamos por nós mesmos.

Por quem deixamos,

Por quem amamos,
Por quem até nunca tivemos.

Mas que deixaram em nós o gosto de um belo sonho.

E não nos pesa este fardo.

De sermos um pouquinho de si e dos outros

Numa inexata medida de ser.

Numa inexata certeza de ter.

Como a única maneira plausível de poder estar:

- Exatamente a um passo de si.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Alegria, alegria.

[Phb]

Cada quarteirão de sonhos

Portas e janelas.

Ruas e vielas.

São atos, fatos e relatos.

Olhos indescritíveis sobre o vento

Sobre tudo o que lhe remete.

E ao quê lhe remete?

Então não saberia dizer por onde andaria seus pensamentos.

Dissolvidos em tudo aquilo que é.

E que ainda pode ser.

Se são só sonhos - lhe bastam.

Alimentam-lhe a alma.

E rimos de nós.

Ansiosos por nós mesmos.

Pedras, ventos, palavras e fotos.

Planos tão seus e meus.

A um segundo do paraíso.

A distância do tempo.

[À meia-noite]

De ladinho, os olhos marejados.

Engoli uma laranja.

-Do tamanho de uma melancia.

Então, tudo bem.

No mais, nada mais.

Eram só fantasmas...

A cada dia, inconfundivelmente, mais vivos.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Até a volta.

Depois de tanto.
e nem tanto.
Ele sabe o que dizer.
"Você vai comigo?"
-Sim.
(aonde você for)
[e por um instante foi tão cômico quanto o dia do " Sério?"; qualquer dia destes ele desiste de mim!]






[Outra coisa]

Não importa o quanto de si é, quando, na verdade, não interessa a ninguém o que se pode ser.
Sejamos assim únicos.
Independentemente de tudo aquilo que nos faz oposto - às vezes sem gosto.
A bondade não é apenas o que você faz.
É o que sente.
E nem sempre o reconhecimento é o maior troféu alcançável.
Então, tudo bem, se já não importa mais o certo ou o errado.
Só um pouco de si basta para aqueles que não merecem um maior apreço.


[Vento]

Ulálaá. E nem gosto deste objetivismo, mas irresistivelmente tenho de dizer: vou à praia. Ok...iria de moto e já tinha preparado meu macacão e unhas vermelhas. Fica para a próxima o macacão...as unhas vermelhas irão.
Irão também na bagagem: uma pitada de bom-humor, histórias velhas, um riso frouxo, e claro, um bom bronzeador amigos... Minha brancura agradece.


Até a volta.
Bom fim de semana, porque o meu será perfeito.
Namastê.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Às 10.

Engoli em seco.
E meus olhos me traíram numa rapidez inimaginável.
De suas palavras retribui-lhe com o meu mais sincero silêncio.
O mesmo que até agora me faz crer que é o melhor e o mais santo remédio para isto.
Então, definitivamente a terça-feira não têm sido o melhor dia das últimas semanas.
Acabara de atravessar algumas grades.
Hoje tinha poças de xixi, roupas molhadas e um sujeito com a cara completamente destruída.
Roubou uma padaria, reincidente - apenas mais um.
E naquele exato momento lia alguns nomes.
Verificava alguns destinos.
Agora, me arrependo de ter atendido o telefone.
Desliguei-o.
Inconsolavelmente pus meus óculos escuros.
Numa falha tentativa de não ser aquele momento.
Mas aquilo já me era tanto, e de tal maneira, que me entreguei.
As lágrimas sorrateiramente se aproveitaram do meu percurso de alguns quarteirões.
-E nós ainda nem demos uma única palavra sobre isto.

sábado, 15 de novembro de 2008

cruzamento.

Sim, de fato saberia reconhecer aquele sorriso sob o Sol.
Sorriso das três da tarde.
O Sol de quase meio-dia.
Por onde escorria-lhe suor,
Aparecia um sorriso.
Frouxo, sim.
Amarelo, talvez.
Mas tão real quanto a minha impaciência.
Não era medíocre tão quanto o vidro que nos separava.
Era só um sorriso por detrás de uma flanela.
de sonhos.
de medos.
da falta de perspectiva que tem nos acometido.
Ele sabia o que queria.
Eu, nem tanto.
Então ele deitou flanela, água e mãos sujas sobre o párabrisa do carro.
Nenhuma moeda.
" Fica para a próxima doutora"
Há sempre uma escolha, ainda que tudo diga que há determinismo demais no mundo.
Há sempre um meio.
Talvez uma nova velha chance de poder ser.
E sê-de tanto, que lhe ofereci meu mais sincero riso.
Ganhei meu dia.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Bem cedo.


"Bom dia, flor do dia!"
Um silêncio qualquer.
Nove metros quadrados de sonhos.
Tão vivos quanto as persianas cor de rosa.
A cama quebrada.
Os velhos e novos livros empoeirados.
E um riso constante.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Herança;

Se já passou algum tempo.
Deixe estar.
Para trás está.
Ao tempo dará.
Vire-se de lado.
Ininterruptamente
Com as palavras e o silêncio
Se um de nós é palavra.
E o outro um quase silêncio
Talvez sejamos surdos de uma herança.
A mesma que de nada nos serve
Mas que insistentemente nos acompanha.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Toda terça.

Lá vai ele.
Sorriso infantil no rosto.
Chaves de grades.
Pés e mãos.
Olhos e medos.
Aquele mesmo cheiro escapando entre as frestas.
Não tinha bananas, nem tantas roupas.
Eram só aqueles.
Os de sempre.
Nem tão sempre.
Sentados ao chão do dominó.
" Eu estou complicado?"
Sim, por um período previsível.




domingo, 9 de novembro de 2008

[ Ah as lágrimas....]

São lágrimas impulsivas,
Infantis.
Nem tanto ao tempo à toa.
-Mas demasiado incerta.
Um tanto quanto muda.
Sorrateira de um sorriso.
Um passo além dos seus olhos.
A um segundo do abismo.


[ E as tardes?]

Ontem era dia da paz.
E se realmente não era a data certa no calendário mundial, sugiro humildemente que se proceda a isto. Era sim o dia da paz. A paz de uns...as dores de alguns e o medo de todos. Um panda, dois matemáticos, uma futura médica e meus olhos rápidos - uma mistura perfeita para o passar das horas.
Um novo matemático astuto... daria até um bom advogado, mas isto não muito lhe convém - sabe muitas piadas! Seu espiral de pensamento é infinito. Cada palavra é um bom motivo para se pensar, então sua inquietação filosófica pode gerar teorias fantásticas ou absurdas... você decide onde quer chegar! É admirável, e eu estou de olho neste talento filosófico.
Minha futura-médica-batatinha é tão doce quanto a possível alegação de que ela não é. Então ela não vai ser doce assim de graça. É um doce que não abusa. Tem uma mente brilhante, inteligência de sobra, e uma lealdade admirável. Vou fritá-la e levá-la para mim.
Meu panda é assim... tão meu quanto a sensação de que não é. Tão de todo mundo como uma espécie de diplomata nato. Esquecido, à toa... Bom vivant! Um mestre na arte da persuasão. Um saquinho cheio de surpresas, valores nobres, sonhos infinitos, certezas quase incontestáveis e olhos indescritíveis.
Assim, de ladinho, vou roubando um pouquinho de cada. Carregando furtivamente todos a mim.
E já os tenho com imenso apreço.
Cada um ao seu tempo e da sua maneira.
Como é bom ver gente com cara de gente, jeito de gente, pele de gente. Tão gente que até nem sente! Mas que infinitamente é sim gente!


Ps: Ligando o botão do foda-se:
Tá,tá,tá... eu estou muuuuuito feliz.
Feliz, feliz, feliz.
E o que é a felicidade senão cada segundo desta sensação que nos acompanha?

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

A essa hora.................

Ele pára o carro.
Ri.
Olha para o lado.
E quantas palavras e sonhos se repetem.
Quantos planos tão nossos a cada dia.
Todo dia
Todas as manhãs.
Tardes.
Noites.
Dias afim.
Assim.
Uma despedida para o amanhã.




[Liguem os seus!]

Todo mundo tem vários botões....sim....
O grande problema é que com a globalização, ou eles ficaram cheios de vírus ou as pessoas se esqueceram que eles existem.
E isto realmente nada tem a ver com a globalização.
-Mas como tudo é culpa dela, isto também é.
Simancol, Desconfiômetro e o Foda-se são os meus prediletos.
Até então o Foda-se estava desligado e sei bem o porquê, mas não convém maiores explicações.
Enfim, liguei o Foda-se.
Então:
Foda-se se vai dar errado.
Foda-se se não está agradando.
Foda-se se isto te incomoda.
Foda-se se não é exatamente o planejado.(nunca é!)
E por fim, mas não menos importante: foda-se sempre.
É a melhor maneira de descobrir:
O caminho certo.
A hora errada.
O motivo mais incoerente.
E a certeza de nada.






tá,tá,tá;
Balanço da semana:
  1. É eu estava mesmo achando que poderia ser, mas enfim, a área criminal está cortadinha da minha lista....pelo menos estou aprendendo a soltar quem está preso - e que não devia ser solto. Mas o Estado gosta desta brincadeira delinquêncial: criar-prender-soltar-prender de novo! E eu estou trabalhando para ele! Fazer o que ? Só posso mudar meu mundo.
  2. Tudo bem...minhas manhãs estão muito mais cheias de adrenalina.
  3. Sete horas e vinte minutos é uma boa hora.
  4. As 18 hrs também!
  5. Ele sabe onde quer chegar.
  6. Eu mais ainda.
  7. Decreto da consciência: nunca saia durante a semana!
  8. Descobri o que já sabia, mas que agora me foi dito. Então teve muito mais graça constatar o que mesmo não sendo óbvio era previsível. Ganhei três barras de chocolate para contar um segredo (meu!) e de fato não me abalei com o que ouvi.... ok, 10 pontos para mim.
  9. Sábado: aula e em seguida onde tudo começou.
  10. Domingo: o nosso amor a gente inventa.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

tente outra vez.

Tem gente que tenta te irritar quase todo dia.
E o presente destas pessoas é a possível sensação de que se pode fazer isto.
Então vamos começar.
Vamos deixar de lado esta possibilidade.
Um pouco de autismo não faz mal a ninguém.
A psicologia reversa funciona às vezes.
Eu compreendo bem isto.
Como algumas outras coisas.
Então...tente outra vez.
- é a sua área a mais tempo.
Não agora.
Use novos métodos.
Ouse.
Se realmente conseguir me tirar do sério: parabéns!
Com certeza eu devia estar de TPM.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Central.

Recuei dois passos após os olhares reprovativos que se seguiam.
Encostei na parede suja.
Mãos e pés.
Cascas de bananas.
Um cheiro fétido de gente amontoada sob um vapor de suor e xixi.
-Para não dizer fezes.
Muita luz no corredor.
Quase nenhuma nas celas.
Então, constatei que nem a luz se atrevia a isto.
Imagine eu.
Eram pessoas.
-Ou quase isto.
Sonhos, desejos, paixões....
Seres Humanos.
Muitas vezes nem tão humanos assim.
Mas feitos de carne e osso como eu....
Bastantes para um cimento frio, um papelão sujo e idéias desconexas.



Então, tudo bem.... fui a penúltima e já me disseram que a 1° vara não é lá estas coisas.
Pensei em voltar ao Conselho de Ética.
O trabalho era menos sujo mas não mais do que isto.
Sim, neste momento eu sou a única mulher no núcleo da Central de Flagrantes.
Então tenho uns nomes nas pastas.
Umas datas nos registros.
Uns autos de mais de 24 horas.
Presos descendo para a Casa de Custódia.
Mães e esposas aos prantos por seus entes queridos ( homicidas, ladrões, 171...)
Pensei comigo mesma: Sim...uma hora eles tem de ser bons.
E devem ser.
A alguns quilômetros dali.