domingo, 10 de agosto de 2008

Papito!

As palavras soam alto.
E sua presença é mais do que o simples estar.
Cada parte deste todo tem sua marca.
Tem sua voz.
Tem sua vida.
É aquele velho menino.
Teimoso.
Zangado.
Altruísta.
De sorriso ás vezes triste.
De olhos cor de esmeralda.
De rugas acentuadas.
É o meu orgulho.
O meu super-herói de verdade.
Meu mundo de sonhos.
Ainda que por algumas vezes não nos façamos entender.
E o que seria do amor se não se pudesse derramar lágrimas?
Nós somos reais.
E eu o amo incondicionalmente.
E o tenho como um espelho do futuro.
Ele me ensinou a lutar.
A acreditar que tudo é possível.
Basta tentar.
Basta sonhar alto.
Basta acordar todos os dias e acreditar que hoje é o dia.
E isso ele ensinou sem dizer uma palavra.
"Porque contra fatos, não há argumentos"
E ele não vive das palavras.
Ele é simplesmente o homem da minha vida.
A quem devo todo o meu imenso amor.





[Historinha]

Sempre que me recordo de algum fato da infância creio que este tem sido o mais recorrente e, de certa forma, aquele que me marcou profundamente - como alguns gestos de tantas pessoas.
Eu tinha 7 anos e era mais descabelada do que hoje - um tanto quanto serelepe. Minha roupa predileta era uma camiseta lilás da LILICA RIPILICA, uma legging preta e um tênis branco com cadarço cor-de-rosa, também da LILICA. Era esta a roupa que eu queria usar naquele dia, afinal, quando se gosta realmente de algo você quer estar impecável para aquilo. E com uma semana de antecedência eu trouxe o convite da escola e entreguei ao papai. Seria uma comemoração dos dias dos pais na sexta-feira que antecede à data.
Papai trabalhava todos os dias de 7 da manhã à 7 da noite e eu o via duas vezes ao dia. E isto nunca realmente foi um problema - eu sempre compreendi o motivo de sua ausência. Então ele me disse que iria e eu fiquei bastante satisfeita. O que ele diz, ele nunca deixa de fazer.
Ensaiei uma coreografia que a "tia" ensinou para a turma. Todos os pais estariam lá e eu queria estar deslumbrante para o meu. Na sexta, quando papai me deixou na escola, confirmou o horário dizendo que estaria lá na hora marcada. Eu simplesmente o adorava e ganhei meu dia com isto. Depois da aula fomos todos ao pátio e os pais já estavam lá- menos o meu. Pensei: " Ele disse que vinha, então ele vem!". Todo mundo então se preparou pra fazer a coreografia, que para meu maior medo, terminava com um abraço no papai respectivo. Onde eu irira colocar minha mão se papai não chegasse? Lembro que cheguei até a cogitar a hipótese de não dançar. Pelo menos assim sairia despercebida e não precisaria ficar ali.
Então todos começaram a dançar. Meu pobre coração a esta altura já estava a mil e esta foi a primeira vez em minha lembrança que engoli um choro. Fiquei com uma laranja enorme na garganta. Dançamos e cantamos toda a música...e as crianças olhavam para os seus pais, esperando a hora do abraço. Quando acabou a música, e todos abraçaram seus papais, eu já estava desatando a chorar. Ninguém talvez tenha percebido, porque meu choro foi tão silencioso quanto as lágrimas mudas que escorriam. Numa fração de segundo quando eu levantei a cabeça e olhei pela última e esperançosa vez para a porta, lá estava ele. Numa imagem recorrente de minha mente. Ele segurava na sua mão um CHARGE - desde então este é o meu chocolate predileto - e me deu um sorriso lindo.
Papai se aproximou e eu aproveitei para enxugar as minhas lágrimas infantis - "Ele veio como prometeu" - eu não queria parecer boba. Ele chegou de mansinho e pediu desculpas pelo atraso, disse que estava abarrotado de trabalho no banco. E meu mundo era só seu. E eu o amava tanto que já nem importava a que horas ele tinha chegado, ou se tinha visto a dancinha que passei uma semana ensaiando para ele. Eu o amava e nada importava além da sua presença ali. Tiramos uma fotinha linda, que infelizmente hoje nem sei onde está, mas diria que nosso amor ficou estampado nela. Nós ríamos bastante e apresentei-o para todas as minhas amiguinhas. Ele é meu orgulho. Cheguei em casa hiper feliz e nem lembrei de contar à mamãe que ele tinha se atrasado - talvez ela fosse brigar com ele e eu não queria que ele levasse bronca. Fique tão tão feliz em vê-lo que pra mim aquele foi o Dia dos Pais mais lindo de toda a minha vida, e de onde tiro lições até hoje. Neste dia eu aprendi que o amor compreende; que há que se persistir naquilo que se acredita; que devemos lutar todo dia por quem amamos.... E isto ele faz por nós ainda hoje.
E eu ainda o olho e o espero todos os dias como há 14 anos atrás.

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